Collison 2023: Mundo não está pronto para chips cerebrais, diz neurocientista

Leandro Garcia
30/06/2023

Em entrevista a Época NEGÓCIOS, Ariel Garten, criadora do Muse, dispositivo que ajuda usuário a monitorar e controlar atividades cebrais, diz que ainda não temos a tecnologia necessária para implantar chips no cérebro humano, como pretende fazer Musk como sua Neuralink

No final de maio, a FDA, agência de vigilância sanitária do governo americano, liberou os testes com chips cerebrais em cérebros humanos, atendendo às demandas de empresas como a Neuralink, de Elon Musk, que pretendem usar o dispositivo para fins medicinais. Musk já disse que pretende realizar os primeiros testes ainda neste ano. Mas será que a tecnologia já está pronta para isso?

“É muito cedo para permitirmos implantes em seres humanos”, diz a neurocientista Ariel Garten em entrevista a Época NEGÓCIOS, durante o Collision. A empresária é fundadora da InteraXon e responsável pela criação e desenvolvimento do Muse, um dispositivo wearable que, colocado em volta da cabeça, ajuda o usuário a controlar a atividade cerebral, levando a estados de meditação e relaxamento – e até mesmo ao sono.

A neurocientista não duvida de que, em um futuro próximo, a tecnologia possa ser extremamente beneficial para os seres humanos, auxiliando no tratamento de doenças físicas e mentais. “Mas não é algo que eu recomendaria testar hoje, porque não temos como saber se a tecnologia é segura. É muito cedo, ainda são necessários anos de testes para isso. No nosso caso, testamos o produto por dez anos. E olha que ele nem mesmo é invasivo”, completou.

A proposta do headband Muse, lançado inicialmente em 2010, era dar às pessoas conhecimento e controle sobre o cérebro, conta Ariel. Ainda na Universidade de Toronto, a neurocientista criou, em parceria com alguns colegas, uma das primeiras interfaces conhecidas entre o cérebro e o computador. Com funcionamento semelhante a um eletroencefalograma, o aparelho mostrava luzes em diferentes intensidades, de acordo com a atividade do cérebro.

“Em pouco tempo, percebemos que essa interface poderia dar às pessoas um conhecimento mais aprofundado de como o seu cérebro funcionava, o que poderia ajudá-las a relaxar e atingir estados de meditação”, disse. Hoje, o headband Muse conta com mais de uma centena de opções de softwares de meditação (até mesmo para melhorar a performance de líderes), é usado em clínicas e hospitais, e já foi adaptado por pesquisadores do mundo inteiro para conduzir seus estudos sobre funções cerebrais.

“Basicamente, o nosso cérebro de comunica conosco de forma eletroquímica, e isso pode ser lido por um wearable. Com isso, ele cria uma espécie de mapa para que usuários e pesquisadores possam atingir seus objetivos”, diz a fundadora. No ano passado, foi lançada a versão mais recente, Muse S, que serve para induzir o sono.

“Estamos sempre adicionando funcionalidades ao aparelho”, diz Ariel. “E existem dezenas de desenvolvedores que construíram novos programas em cima da nossa plataforma, criando todo um ecossistema”, afirma Ariel. Depois de atuar durante anos como CEO, ela assumiu neste ano a função de Evangelism Officer – o CEO agora é Jean-Michel Fournier, que pretende intensificar as parcerias com empresas de fitness e de cuidados com a saúde – o headband também pode ser usado no controle da dor.

Mãe de duas filhas (uma delas é amamentada durante a entrevista), Ariel é ainda dona de uma marca de moda de sucesso em Toronto e chegou a ter seus trabalhos exibidos na Art Gallery of Ontario. “Tudo parte da mesma motivação, de resolver problemas de maneira original, reunindo ideias aparentemente disparatadas para gerar algo novo. Trabalhar com moda é divertido, mas com o Muse acredito estar fazendo algo que realmente pode tornar o mundo melhor.”

Fonte: Globo.com – Por: Marisa Adán Gil, de Toronto – 30/06/2023 – às 11:15h