A tecnologia digital cognitiva não altera o que aprendemos, mas modifica o modo como assimilamos. Está desabrochando múltiplas formas de ofertar ensino, desenvolvimento e aprendizagem. Além disso, a tecnologia oportuniza a entrada de capital de risco, colocando grandes investimentos e novos participantes na arena educacional.
Primeiro, foram os aportes de fundos de private equity, que proporcionaram a eflorescência de grandes grupos educacionais. Recentemente, iniciou-se um modelo de negócio, já consolidado fora de nosso país, no qual as IES contratam uma OPM – (Online Program Management), para auxiliar a desenvolver e ofertar programas de ensino a distância
Os provedores de OPM oferecem suporte em áreas como pesquisa de mercado, marketing, captação e retenção (permanência) de estudantes, gerenciamento de matrículas, serviços de carreira, design instrucional, soluções tecnológicas e ajuda na concepção do currículo, construção de material didático e entrega do curso.
O modelo de negócio é baseado na divisão percentual das mensalidades recebidas, normalmente 50% para cada parceiro. Esta dinâmica molda o futuro do ensino, pois permite às IES isoladas competirem de forma mais igualitária com os grandes grupos. Todo esse processo poderá tornar a educação melhor ou pior, dependendo dos objetivos dos atores participantes.
A covid-19 não criou nada de novo, mas antecipou o que seria inevitável. Ela deu uma vascolejada no status quo que estava se esboçando. E as escolas, forçosa e celeremente, tiveram que se adaptar.
A tecnologia passa a ser uma efetiva mediadora da aprendizagem pós-pandemia, desde que se tenha uma boa estrutura curricular, além de objetivos e metas claras e mensuráveis do que se deseja ensinar e desenvolver. Desponta um renovado conceito de oferta educacional que alteram muitos dos paradigmas tradicionais. Listo 17 deles.
A presencialidade não se refere necessariamente à presença física, considerando um mesmo espaço e um idêntico tempo, uma vez que, com as possibilidades da tecnologia de comunicação e informação, é factível estabelecer tal relação e interação virtualmente, ou seja, o tempo pode e deve ser símil, o espaço não obrigatoriamente.
O Processo e Ensino e Aprendizagem, passa a ser Processo de Ensino, Desenvolvimento e Aprendizagem no pós- pa, uma vez que não basta ensinar é preciso desenvolver as competências e habilidades necessárias para o sucesso nesse novo cenária de tecnologia cognitiva, inteligência artificial e big data (a análise de grandes bancos de dados em, busca de padrões e tendências).
Aprender é modificar comportamentos por meio de atos e ações individuais e não tão somente transmitir conteúdos. Para tanto, é preciso ter vontade e desejo de aprender, assim, não é a metodologia que é ativa e sim o indivíduo.
Mesmo a nomenclatura aprendizagem ativa concerne-se num pleonasmo inapropriado, todavia, aceitável, porquanto, a neurociência cognitiva testifica que não se encontra assimilação passiva, daí a indispensabilidade da pluralidade na educação com a aplicação de metodologias híbridas, divididas em: Metodologia Instrucional para aquisição de conhecimentos; Metodologia Experiencial com o intuito de aquisição, desenvolvimento e incremento de habilidades competências e Metodologia Experimental para sedimentação e concepção de novos conhecimentos.
Se historicamente o arquétipo educacional estava concentrado no domínio da informação e na posse do monopólio da certificação das escolas, com a tecnologia digital cognitiva, internet e big data, esse poder passou a ser centralizado no acesso e transferência da informação e não na propriedade. O reconhecimento do saber e do saber-fazer passa a ser aferido na prática, aplicação e transferência dos conhecimentos e competências desenvolvidas e não na possessão de um diploma ou certificado.
Diplomas universitários estão fora do alcance para uma boa leva de brasileiros e, para outros tantos, os benefícios auferidos não legitimam o alto custo. Certamente este é um dos motivos que, conforme dados do MEC/INEP, somente 48% dos entrantes terminam e recebem certificação de Ensino Superior.
Para algumas profissões em áreas da Medicina e do Direito, por exemplo, o diploma ainda tem e terá peso decisivo. Contudo, em muitas outras áreas de conhecimento, o jogo da disrupção ficará cada vez mais dificultoso para as faculdades tradicionais, uma vez que, o que se ensina no primeiro ano de um curso estará obsoleto no final de quatro a cinco anos, não corroborando com o alto investimento.
O ensino superior será baseado em nanodegrees que fará parte de um ecossistema para o desenvolvimento de uma constelação de competências.
Nanodegree são formações online com menor tempo de duração se comparados aos programas tradicionais. Nelas, o estudante será o responsável pela construção do seu percurso de aprendizagem. O somatório das competências e aprendizagem é que determinará o tipo de certificação.
Se na educação a distância as aulas são disponibilizadas por meio de vídeo-aulas assíncronas, nas quais o tempo de estudo é do discentes, no ensino híbrido as aulas podem ser presenciais ou remotas, contudo devem ser síncronas, em tempo real, seguindo um horário previamente concebido, ou seja, o tempo de instrução é da escola e não do estudante.
O novo normal do processo de ensino, desenvolvimento e aprendizagem não está na dicotomia entre online e off-line, mas na aprendizagem em tempo real. Oportunidades de assimilação ocorrem permanentemente e as estrelas da educação do futuro serão as plataformas e ferramentas de armazenamento e gestão do conhecimento e não, necessariamente, as escolas.
As instituições educacionais necessitam entender que a luta diária pela atenção, afinidade e fidelidade de seus estudantes se aguçou energeticamente com a eclosão de poderosos players como: Netflix, Now, videogames, redes sociais, plataformas de videoconferências. A batalha é árdua e coloca as escolas como parte de um game que ela nunca jogou e não sabe como jogar.
Os espaços físicos educacionais devem ser caracterizados para uma pluralidade de modos de aprendizagem e desenvolvimento de competências. O valor do encontro presencial estará no que John Dewey, o filósofo que colocou a prática em foco, denominou de learn by doing (aprender fazendo).
Assim, as escolas terão cada vez menos salas de aulas em forma de auditórios e cada vez mais estruturas dinâmicas de workshop, lounges, arenas para partilha de conhecimento e makerspaces para a prática e aplicação dos conteúdos assimilados.
O desenho dos currículos será orientado a partir de dados e informações concretas das necessidades das empresas, do mercado e da sociedade em geral.
Em uma conjuntura que exige uma educação cada vez mais efetiva e produtiva, os achismos terão menos espaços; os designers e curadores curriculares necessitarão se apoiar na ciência, com argumentos estruturados para escolher as competências que devem ser desenvolvidas, os conteúdos que precisam ser ensinados, as metodologias, mídias e formatos a serem utilizados e que mais se adequem ao seu cada vez mais heterogêneo público-alvo.
Aliás, esse é o tema do meu novo livro “Currículo 30-60-10”, alicerçado na Taxonomia de Bloom, que em breve estará disponível com o objetivo de auxiliar os gestores educacionais no planejamento e concepção de um currículo adequado as novas exigências do mercado e da sociedade em geral.
Congregar estudantes de forma isócrona (física ou digital), está cada vez mais dispendioso, razão pela qual, os encontros tautócronos necessitarão gerar valor de aprendizagem.
Aulas expositivas, informativas e palestradas, significará desperdício e mau utilização do tempo. A aprendizagem síncrona será um ambiente de hands on (mão na massa), as metodologias experiencial (ativa) e experimental irão dominar o décor e eliminar definitivamente os monólogos monótonos.
Se a comunicação era importante, hodiernamente será ferramenta de performance e sobrevivência imprescindível do professor, visto que, a aprendizagem síncrona e assíncrona gerará mais ruídos de interlocução do que os tradicionais encontros presenciais.
Assim, será vital que os docentes dominem a linguagem corporal, verbal e não-verbal, sejam proficientes na escuta ativa, no linguajar moderno de emojis, memes e no jargão das expressões idiomáticas digitais.
O mesmo regozijo que conduzirá as metodologias experienciais (ativas) e experimentais para o proscênio dominante, irá trazer o edutainment (entretenimento educativo) para o centro do palco.
Se a ludicidade está cada vez mais relevante para angariar a atenção dos discentes, os docentes sentirão a pressão de ter de entreter e aprazer seus estudantes numa frequência muito mais intensa, o que exigirá habilidades nunca antes necessárias;
Se a sala de aula era quase que a única mídia disponível para o processo de ensino, desenvolvimento e aprendizagem, no pós-pandemia e com a tecnologia digital cognitiva, a escola deve estar presente, de forma integrada, concisa, em todos os canais que o estudante esteja navegando como: lives, vídeos, podcasts, blogs, redes sociais, entre outros.
Escolas Omnis serão o protótipo e a educação irá consolidar as experiências de desenvolvimento e aprendizagem para que os discentes possam navegar pelas múltiplas plataformas com autonomia e segundo sua conveniência.
As provas bimestrais e exames finais de verificação e ranqueamento não serão mais utilizados. A tecnologia permite avaliações múltiplas e permanentes de performance e aprendizagem em tempo real.
Softwares como Adaptive Learning (aprendizagem adaptativa), permitem a entrega de experiências de aprendizagem personalizadas que atendem às necessidades do estudante por meio de ininterruptas avaliações e feedbacks, indicando caminhos e recursos just-in-time.
Embora haja considerável debate sobre o que constitui o sucesso dos estudantes, o papel da escola, a função dos docentes, a responsabilidade dos discentes, a influência do meio ambiente, a notoriedade da tecnologia, é evidente que o foco nos resultados está agora incorporado na cultura da Educação.
Essa pressão está vindo dos financiadores de capital de risco e, também, de empregadores interessados em preencher lacunas de competências e habilidades significativas e necessárias aos novos cenários.
O perigo real é que o tresloucado esforço por resultados econômicos e financeiros por parte dos grandes grupos educacionais e investidores de risco (private equity e OPM) faça com que os prováveis 17 itens relacionados a aprendizagem pós-pandemia não tenham significado algum para a educação brasileira.
Todos os avanços para desenvolver as competências podem deixar de ser prioridade e o ensino conteudista, sem qualquer compromisso com a aplicação e transferência dos conhecimentos adquiridos, bem como, com a empregabilidade e trabalhabilidade dos estudantes, sejam postergados por um grande período de tempo, fazendo com que as IES continuem formando pessoas inúteis para esse novo mercado, no qual as ocupações físicas, repetitivas e preditivas, estão sendo rapidamente automatizadas.
Nesse caso, o Brasil continuará na contramão dos avanços da quarta revolução industrial, como fez nas revoluções anteriores, deixando o país como promessa, mas não como realidade.
Fonte: Desafios da Educação – Por: Rui Fava – 15/11/2020 – 22:24h
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